As cargas molhadas na esterilização continuam sendo um dos principais desafios das instituições de saúde.
A presença de umidade após a esterilização invalida o ciclo, exige reprocessamento e aumenta o risco de contaminação cruzada.
Neste artigo, você vai entender as causas mais comuns das cargas molhadas, os riscos que elas representam e as boas práticas recomendadas para preveni-las, incluindo as nossas soluções que ajudam a manter o material seco, estéril e seguro até o uso.
O que são cargas molhadas
No ciclo de esterilização a vapor, considera-se carga molhada (wet pack) qualquer item ou pacote que, ao final do processo padrão, apresenta condensado ou umidade residual. Essa condição caracteriza desvio de processo e é inaceitável.
Por que cargas molhadas na esterilização são críticas?
Elas invalidam o processo, exigem reprocessamento e aumentam o risco de perda da esterilidade por capilaridade.Também geram impactos operacionais e financeiros (retrabalho, atrasos e custos extras).
Para piorar, CMEs às vezes recorrem a soluções arbitrárias (absorventes, pressão/tempo indevidos) que elevam o risco e podem mascarar falhas.
1) Invalidação do processo e reprocessamento
Condensado no produto de saúde indica falha na qualidade do material esterilizado, por isso pacotes úmidos não devem ser utilizados. Afinal, a umidade invalida a esterilização e exige reprocessamento.
2) Risco de perda da esterilidade (capilaridade)
O excesso de condensado compromete a eficácia do vapor sobre a carga e eleva o risco de falha de esterilização. A presença de umidade na barreira estéril externa pode transportar microrganismos por capilaridade para o interior da embalagem.
3) Impactos operacionais e financeiros
Reprocessamentos aumentam tempo de ciclo, retrabalho, consumo de insumos e custo total. O risco presumido de infecção pode levar a adiamentos/cancelamentos de cirurgias e pior desfecho clínico, com repercussões econômicas e assistenciais.
4) “Soluções” arbitrárias que elevam o risco
É comum que CMEs e equipes de engenharia tentem “corrigir” a umidade com medidas não validadas, como:
- Inserir campos absorventes dentro das caixas;
- Aumentar a pressão da camisa da autoclave;
- Estender o tempo de secagem indiscriminadamente.
Essas práticas podem piorar o problema, pois:
- Campos absorventes e pressão elevada favorecem vapor superaquecido (não saturado), que se comporta como calor seco e inibe a coagulação de esporos, etapa essencial da esterilização a vapor.
- Sob vapor superaquecido ou secagens excessivas, indicadores químicos e biológicos podem apresentar falsos satisfatórios, mascarando falhas do processo.
Principais causas de cargas molhadas na CME
As causas são multifatoriais e envolvem qualidade do vapor, desempenho do esterilizador e práticas de montagem/carregamento.
1) Qualidade do vapor
- Vapor superaquecido (superheated steam): vapor não saturado, com baixa umidade disponível para condensação; comporta-se como calor seco, prejudicando a esterilização.
As causas comuns nesse caso são: quedas de pressão próximas ao ponto de uso (sistemas com caldeira central) e temperatura/pressão da camisa muito acima da câmara (prática adotada para “secar” a carga, mas que pode induzir superaquecimento).
- Gases não condensáveis (GNCs): CO₂ e outros resíduos do tratamento de água atuam como barreira térmica, distorcem a relação pressão–temperatura e podem levar à falha do processo.
- Condensação na camisa (jacket): se a camisa não estiver levemente mais quente que a câmara, ocorre condensação indesejada nas paredes, favorecendo umidade residual.
2) Desempenho do esterilizador
- Falha/ineficiência na fase de secagem: a secagem depende da troca térmica parede–carga sob vácuo; falhas deixam condensado residual.
- Problemas de equipamento: quando a montagem da carga está adequada e ainda há pacotes molhados, é provável falha do esterilizador (vácuo, aquecimento, controle).
3) Sistema de barreira estéril e carregamento
- Posicionamento inadequado: instrumentos ocos/canulados na horizontal ou com a extremidade aberta para cima dificultam a drenagem; o ideal é vertical, com a abertura voltada para baixo.
- Remover produtos da embalagem original só para “caber” na autoclave e colocá-los na horizontal prejudica a drenagem e a segurança.
- Lúmens com acúmulo de água: condensado em lúmens restringe o fluxo de vapor saturado e compromete a esterilização.
- Embalagem inadequada: materiais de embalagem não projetados para o ciclo/carga favorecem condensado e falhas de secagem.
Boas práticas para evitar cargas molhadas
A prevenção de cargas molhadas na esterilização depende de preparar corretamente os itens, seguir as instruções de uso e monitorar o ciclo com critérios técnicos, evitando “atalhos” que podem mascarar falhas.
- Disposição dos itens
A disposição dos itens influencia diretamente a drenagem do condensado. Instrumentos com lúmen devem ser posicionados verticalmente, com a extremidade aberta voltada para baixo, para favorecer a eliminação de umidade.
Já o posicionamento horizontal ou em ângulo com a abertura para cima é especialmente prejudicial e pode comprometer a esterilização, sobretudo em produtos canulados.
- Seguir as instruções de uso
É essencial seguir as Instruções de Uso dos fabricantes no que diz respeito ao preparo, à forma de carregar a câmara e às condições de ciclo.
Quando houver recorrência de pacotes úmidos, recomenda-se uma análise exploratória: reduzir o volume da carga, revisar o arranjo e, se necessário, processar temporariamente sem a barreira estéril apenas para diagnóstico, até identificar uma configuração reprodutível que resulte em carga seca.
- Utilizar o ar adequado
A empresa processadora deve sempre utilizar ar apropriado (ar comprimido medicinal, gás inerte ou ar filtrado, seco e isento de óleo), assegurando a remoção eficaz da umidade residual sem introduzir contaminantes.
- Monitoramento e manutenção
Após qualquer falha, reparo ou suspeita de desvio, o esterilizador deve ser requalificado, incluindo a utilização de indicadores biológicos e químicos.
O monitoramento deve priorizar a carga mais crítica, na qual a probabilidade de umidade é maior e as exigências do processo são mais desafiadoras.
Para detecção de vapor superaquecido, condição em que indicadores químicos e parâmetros físicos podem não acusar o problema, o uso do indicador biológico é fortemente recomendado.
A posição correta do indicador biológico, com a tampa voltada para baixo dentro de um dispositivo de desafio, mostrou-se crucial para evidenciar essa falha.
Se, após excluir problemas de montagem e arranjo, a ocorrência de pacotes molhados persistir, o adequado é acionar o suporte técnico do esterilizador a vapor, pois é provável que haja anomalia no equipamento (vácuo, aquecimento, controle ou etapa de secagem).
Soluções vendidas na Med Supply para reduzir o problema das cargas molhadas
A escolha correta de embalagens e sistemas de barreira é fundamental para evitar a umidade residual, manter a integridade do pacote e preservar a segurança do paciente.
Nós, da Med Supply, oferecemos soluções completas e certificadas que atuam diretamente na prevenção desse problema, como o:
Papel Crepado SteriSheet | SteriMed


O papel crepado SteriSheet de 2ª e 3ª geração é uma das principais soluções para embalar materiais cirúrgicos e hospitalares que passam por processos de esterilização.
Sua barreira bacteriana eficaz permite a entrada do agente esterilizante (seja vapor, gás ou radiação) e impede que microrganismos externos penetrem após o ciclo.
Essa dupla função garante que os instrumentos permaneçam estéreis e protegidos até o momento do uso, evitando recontaminação e reduzindo o risco de cargas molhadas.
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Referência:
LARANJEIRA, Paulo Roberto. Adopted practices to avoid wet packages in steam sterilization: safety implications and responses of biological and chemical indicators. 2019. Tese (Doutorado em Enfermagem). Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019.
Imagem: Freepik/wayhomestudio

Enfermeira formada pela Universidade FUMEC | Especialista em Auditoria e Gestão da Qualidade pela Universidade UNA | Consultora Técnica na empresa Med Supply. LinkedIn: @micheleeps.


